Palácios da puerícia e da mocidade: Espaços escolares na América (1870/1879).

Autores
Sily, Paulo Rogério Marques; Gondra, José Gonçalves
Año de publicación
2014
Idioma
portugués
Tipo de recurso
artículo
Estado
versión aceptada
Descripción
Em tempos de institucionalização da educação escolar, de racionalização pedagógica e de construção de nações o professor e viajante francês Célestin Hippeau (1803 – 1883) visitou oficialmente países da Europa e da América com a missão de conhecer experiências de instrução pública realizadas em terras estrangeiras, a fim de que pudessem servir de amparo e inspiração para a (re)organização da educação de seu país. As viagens de estudo podem ser compreendidas no âmbito de missões científicas patrocinadas por Estados europeus ao longo do século XIX. Elas foram realizadas por professores de diferentes níveis de ensino, inspetores escolares e agentes comissionados pelos governos, com o objetivo de estudar novos métodos e procedimentos pedagógicos, conhecer organizações escolares em vigor, assim como inteirar-se das soluções diversas adotadas em outros Estados para enfrentar diferentes problemas relativos à instrução pública. Alguns desses estudos foram publicados em forma de relatórios e livros, a fim de registrar, prestar contas da tarefa contratada e, ao mesmo tempo, com as publicações, estimular reflexões, alimentar debates e/ou orientar políticas e medidas referentes à educação nacional. Consideradas em sua abrangência espacial e potencialidade informacional, as missões científicas, assim como as exposições internacionais principiadas no século XIX em países dos continentes europeu e americano, particularmente em suas seções sobre educação, podem ser consideradas estratégias importantes para assegurar circulação e internacionalização do discurso pedagógico comprometido com a modernização da sociedade pela via escolar. Viajante e estudioso de experiências internacionais de escolarização, após sua aposentadoria como professor na década de 1870, Célestin Hippeau redigiu e publicou um conjunto de relatórios sobre a instrução pública em vigor em cinco países da Europa e dois no continente Americano: L’instruction publique aux États-Unis em 1870, objeto de duas reedições (1872, 1878), L’instruction publique en Angleterre (1872), ambos traduzidos para língua portuguesa em 1871 e 1874, respectivamente; L’instruction publique en Allemagne (1873); L’instruction publique en Italie (1875); L’instruction publique dans les États du Nord (1876); L’instruction publique en Russie (1878) e L’instruction publique dans l’Amérique du Sud (1879). Em seus estudos, Hippeau buscou destacar experiências e práticas sociais consideradas modernas, democráticas e progressistas, fundamentadas nas teses do direito e da justiça. Para ele, a instrução se constituía em pré-condição para a elevação da ordem moral e política, progresso intelectual e prosperidade material da nação. Alinhava-se, assim, aos que argumentavam em favor do caráter preventivo e redentor da escola. Neste trabalho, tomando como fonte parte dos estudos do professor francês, selecionamos um aspecto da instrução pública por ele registrado e analisado em seus relatórios sobre a América, referente às experiências dos Estados Unidos (1870) e da Argentina (1879): os espaços escolares. Com isso, buscamos evidenciar o debate e a circulação de convenções sobre a física dos estabelecimentos escolares na segunda metade do século XIX, assim como analisar princípios e aspectos que, segundo Hippeau, deveriam orientar a localização, organização, distribuição e funcionalidade dos espaços e instalações dos prédios escolares, o que correspondia a uma pedagogia e escola cada vez mais ancorada em princípios científico-higiênicos. Nos dois relatórios aqui estudados, Célestin Hippeau fixou um conjunto de impressões sobre os espaços escolares, considerados por ele, em alguns casos, “verdadeiros palácios da puerícia e da mocidade”. Gesto que pode ser compreendido em duplo sentido: como valorização da existência de estabelecimentos escolares próprios/autônomos, especialmente destinados à instrução de crianças, jovens e adultos e como reconhecimento da existência de políticas de construção de prédios escolares modernos e exemplares. Características próprias da instrução nos países estudados, “onde pode constatar em todas as classes da sociedade um desejo dito de elevar o nível da educação pública”, o que teria proporcionado a edificação de escolas melhores instaladas e mais confortáveis. Para apresentar e valorizar os espaços escolares nos dois países da América, Hippeau se deteve no exame dos prédios escolares destinados à educação nos três níveis de ensino (primário, secundário e superior). Ressaltava os estilos de arquitetura, instalações, dependências e funcionalidade, descrevendo-os de forma detalhada, articulada ao emprego de ilustrações de prédios escolares, recurso exclusivo desses dois relatórios. As ilustrações focalizam a fachada, de modo a chamar atenção para o específico do prédio e sua monumentalidade. Ao valorizar os espaços e instalações de prédios escolares em dois países da América, o professor francês, ao que parece, buscou legitimar determinados modelos pedagógicos por ele considerados científicos, modernos e exemplares, a serem observados e seguidos pelos países comprometidos com o desenvolvimento material e moral da nação. Deste modo, a racionalização da pedagogia se vê rebatida na física das escolas. Processo que organiza uma vasta zona de ilegitimidade, constituída por expressiva fração das experiências de escolarização em curso, como as aulas avulsas, escolas isoladas, classes multisseriadas, que via de regra, ocorriam em casas adaptadas. Por fim, cabe notar que os relatórios do professor francês, menos que um discurso original, se constituem em peça de um amplo e complexo debate sobre as condições para uma instrução mais eficiente e eficaz para o governo de si e dos outros; uma questão daquele e de muitos outros presentes.
Fil: Sily, Paulo Rogério Marques. Universidad del Estado de Río de Janeiro; Brasil
Fil: Gondra, José Gonçalves. Universidad del Estado de Río de Janeiro; Brasil
Materia
Educación
América
Arquitectura
Escuelas
Historia de la educación
Siglo XIX-Segunda mitad
Edificios educacionales
Nivel de accesibilidad
acceso abierto
Condiciones de uso
http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/ar/
Repositorio
RIDAA (UNICEN)
Institución
Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires
OAI Identificador
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Elas foram realizadas por professores de diferentes níveis de ensino, inspetores escolares e agentes comissionados pelos governos, com o objetivo de estudar novos métodos e procedimentos pedagógicos, conhecer organizações escolares em vigor, assim como inteirar-se das soluções diversas adotadas em outros Estados para enfrentar diferentes problemas relativos à instrução pública. Alguns desses estudos foram publicados em forma de relatórios e livros, a fim de registrar, prestar contas da tarefa contratada e, ao mesmo tempo, com as publicações, estimular reflexões, alimentar debates e/ou orientar políticas e medidas referentes à educação nacional. Consideradas em sua abrangência espacial e potencialidade informacional, as missões científicas, assim como as exposições internacionais principiadas no século XIX em países dos continentes europeu e americano, particularmente em suas seções sobre educação, podem ser consideradas estratégias importantes para assegurar circulação e internacionalização do discurso pedagógico comprometido com a modernização da sociedade pela via escolar. Viajante e estudioso de experiências internacionais de escolarização, após sua aposentadoria como professor na década de 1870, Célestin Hippeau redigiu e publicou um conjunto de relatórios sobre a instrução pública em vigor em cinco países da Europa e dois no continente Americano: L’instruction publique aux États-Unis em 1870, objeto de duas reedições (1872, 1878), L’instruction publique en Angleterre (1872), ambos traduzidos para língua portuguesa em 1871 e 1874, respectivamente; L’instruction publique en Allemagne (1873); L’instruction publique en Italie (1875); L’instruction publique dans les États du Nord (1876); L’instruction publique en Russie (1878) e L’instruction publique dans l’Amérique du Sud (1879). Em seus estudos, Hippeau buscou destacar experiências e práticas sociais consideradas modernas, democráticas e progressistas, fundamentadas nas teses do direito e da justiça. Para ele, a instrução se constituía em pré-condição para a elevação da ordem moral e política, progresso intelectual e prosperidade material da nação. Alinhava-se, assim, aos que argumentavam em favor do caráter preventivo e redentor da escola. Neste trabalho, tomando como fonte parte dos estudos do professor francês, selecionamos um aspecto da instrução pública por ele registrado e analisado em seus relatórios sobre a América, referente às experiências dos Estados Unidos (1870) e da Argentina (1879): os espaços escolares. Com isso, buscamos evidenciar o debate e a circulação de convenções sobre a física dos estabelecimentos escolares na segunda metade do século XIX, assim como analisar princípios e aspectos que, segundo Hippeau, deveriam orientar a localização, organização, distribuição e funcionalidade dos espaços e instalações dos prédios escolares, o que correspondia a uma pedagogia e escola cada vez mais ancorada em princípios científico-higiênicos. 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Ressaltava os estilos de arquitetura, instalações, dependências e funcionalidade, descrevendo-os de forma detalhada, articulada ao emprego de ilustrações de prédios escolares, recurso exclusivo desses dois relatórios. As ilustrações focalizam a fachada, de modo a chamar atenção para o específico do prédio e sua monumentalidade. Ao valorizar os espaços e instalações de prédios escolares em dois países da América, o professor francês, ao que parece, buscou legitimar determinados modelos pedagógicos por ele considerados científicos, modernos e exemplares, a serem observados e seguidos pelos países comprometidos com o desenvolvimento material e moral da nação. Deste modo, a racionalização da pedagogia se vê rebatida na física das escolas. Processo que organiza uma vasta zona de ilegitimidade, constituída por expressiva fração das experiências de escolarização em curso, como as aulas avulsas, escolas isoladas, classes multisseriadas, que via de regra, ocorriam em casas adaptadas. 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Alguns desses estudos foram publicados em forma de relatórios e livros, a fim de registrar, prestar contas da tarefa contratada e, ao mesmo tempo, com as publicações, estimular reflexões, alimentar debates e/ou orientar políticas e medidas referentes à educação nacional. Consideradas em sua abrangência espacial e potencialidade informacional, as missões científicas, assim como as exposições internacionais principiadas no século XIX em países dos continentes europeu e americano, particularmente em suas seções sobre educação, podem ser consideradas estratégias importantes para assegurar circulação e internacionalização do discurso pedagógico comprometido com a modernização da sociedade pela via escolar. Viajante e estudioso de experiências internacionais de escolarização, após sua aposentadoria como professor na década de 1870, Célestin Hippeau redigiu e publicou um conjunto de relatórios sobre a instrução pública em vigor em cinco países da Europa e dois no continente Americano: L’instruction publique aux États-Unis em 1870, objeto de duas reedições (1872, 1878), L’instruction publique en Angleterre (1872), ambos traduzidos para língua portuguesa em 1871 e 1874, respectivamente; L’instruction publique en Allemagne (1873); L’instruction publique en Italie (1875); L’instruction publique dans les États du Nord (1876); L’instruction publique en Russie (1878) e L’instruction publique dans l’Amérique du Sud (1879). Em seus estudos, Hippeau buscou destacar experiências e práticas sociais consideradas modernas, democráticas e progressistas, fundamentadas nas teses do direito e da justiça. 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Nos dois relatórios aqui estudados, Célestin Hippeau fixou um conjunto de impressões sobre os espaços escolares, considerados por ele, em alguns casos, “verdadeiros palácios da puerícia e da mocidade”. Gesto que pode ser compreendido em duplo sentido: como valorização da existência de estabelecimentos escolares próprios/autônomos, especialmente destinados à instrução de crianças, jovens e adultos e como reconhecimento da existência de políticas de construção de prédios escolares modernos e exemplares. Características próprias da instrução nos países estudados, “onde pode constatar em todas as classes da sociedade um desejo dito de elevar o nível da educação pública”, o que teria proporcionado a edificação de escolas melhores instaladas e mais confortáveis. Para apresentar e valorizar os espaços escolares nos dois países da América, Hippeau se deteve no exame dos prédios escolares destinados à educação nos três níveis de ensino (primário, secundário e superior). Ressaltava os estilos de arquitetura, instalações, dependências e funcionalidade, descrevendo-os de forma detalhada, articulada ao emprego de ilustrações de prédios escolares, recurso exclusivo desses dois relatórios. As ilustrações focalizam a fachada, de modo a chamar atenção para o específico do prédio e sua monumentalidade. Ao valorizar os espaços e instalações de prédios escolares em dois países da América, o professor francês, ao que parece, buscou legitimar determinados modelos pedagógicos por ele considerados científicos, modernos e exemplares, a serem observados e seguidos pelos países comprometidos com o desenvolvimento material e moral da nação. Deste modo, a racionalização da pedagogia se vê rebatida na física das escolas. Processo que organiza uma vasta zona de ilegitimidade, constituída por expressiva fração das experiências de escolarização em curso, como as aulas avulsas, escolas isoladas, classes multisseriadas, que via de regra, ocorriam em casas adaptadas. Por fim, cabe notar que os relatórios do professor francês, menos que um discurso original, se constituem em peça de um amplo e complexo debate sobre as condições para uma instrução mais eficiente e eficaz para o governo de si e dos outros; uma questão daquele e de muitos outros presentes.
Fil: Sily, Paulo Rogério Marques. Universidad del Estado de Río de Janeiro; Brasil
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Alguns desses estudos foram publicados em forma de relatórios e livros, a fim de registrar, prestar contas da tarefa contratada e, ao mesmo tempo, com as publicações, estimular reflexões, alimentar debates e/ou orientar políticas e medidas referentes à educação nacional. Consideradas em sua abrangência espacial e potencialidade informacional, as missões científicas, assim como as exposições internacionais principiadas no século XIX em países dos continentes europeu e americano, particularmente em suas seções sobre educação, podem ser consideradas estratégias importantes para assegurar circulação e internacionalização do discurso pedagógico comprometido com a modernização da sociedade pela via escolar. Viajante e estudioso de experiências internacionais de escolarização, após sua aposentadoria como professor na década de 1870, Célestin Hippeau redigiu e publicou um conjunto de relatórios sobre a instrução pública em vigor em cinco países da Europa e dois no continente Americano: L’instruction publique aux États-Unis em 1870, objeto de duas reedições (1872, 1878), L’instruction publique en Angleterre (1872), ambos traduzidos para língua portuguesa em 1871 e 1874, respectivamente; L’instruction publique en Allemagne (1873); L’instruction publique en Italie (1875); L’instruction publique dans les États du Nord (1876); L’instruction publique en Russie (1878) e L’instruction publique dans l’Amérique du Sud (1879). Em seus estudos, Hippeau buscou destacar experiências e práticas sociais consideradas modernas, democráticas e progressistas, fundamentadas nas teses do direito e da justiça. Para ele, a instrução se constituía em pré-condição para a elevação da ordem moral e política, progresso intelectual e prosperidade material da nação. Alinhava-se, assim, aos que argumentavam em favor do caráter preventivo e redentor da escola. Neste trabalho, tomando como fonte parte dos estudos do professor francês, selecionamos um aspecto da instrução pública por ele registrado e analisado em seus relatórios sobre a América, referente às experiências dos Estados Unidos (1870) e da Argentina (1879): os espaços escolares. Com isso, buscamos evidenciar o debate e a circulação de convenções sobre a física dos estabelecimentos escolares na segunda metade do século XIX, assim como analisar princípios e aspectos que, segundo Hippeau, deveriam orientar a localização, organização, distribuição e funcionalidade dos espaços e instalações dos prédios escolares, o que correspondia a uma pedagogia e escola cada vez mais ancorada em princípios científico-higiênicos. Nos dois relatórios aqui estudados, Célestin Hippeau fixou um conjunto de impressões sobre os espaços escolares, considerados por ele, em alguns casos, “verdadeiros palácios da puerícia e da mocidade”. Gesto que pode ser compreendido em duplo sentido: como valorização da existência de estabelecimentos escolares próprios/autônomos, especialmente destinados à instrução de crianças, jovens e adultos e como reconhecimento da existência de políticas de construção de prédios escolares modernos e exemplares. Características próprias da instrução nos países estudados, “onde pode constatar em todas as classes da sociedade um desejo dito de elevar o nível da educação pública”, o que teria proporcionado a edificação de escolas melhores instaladas e mais confortáveis. Para apresentar e valorizar os espaços escolares nos dois países da América, Hippeau se deteve no exame dos prédios escolares destinados à educação nos três níveis de ensino (primário, secundário e superior). Ressaltava os estilos de arquitetura, instalações, dependências e funcionalidade, descrevendo-os de forma detalhada, articulada ao emprego de ilustrações de prédios escolares, recurso exclusivo desses dois relatórios. As ilustrações focalizam a fachada, de modo a chamar atenção para o específico do prédio e sua monumentalidade. Ao valorizar os espaços e instalações de prédios escolares em dois países da América, o professor francês, ao que parece, buscou legitimar determinados modelos pedagógicos por ele considerados científicos, modernos e exemplares, a serem observados e seguidos pelos países comprometidos com o desenvolvimento material e moral da nação. Deste modo, a racionalização da pedagogia se vê rebatida na física das escolas. Processo que organiza uma vasta zona de ilegitimidade, constituída por expressiva fração das experiências de escolarização em curso, como as aulas avulsas, escolas isoladas, classes multisseriadas, que via de regra, ocorriam em casas adaptadas. 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